bolsonarismo, Política

A hora da elite trocar de posto

O bolsonarismo é um paradoxo em si próprio, a começar pela surreal situação de um sujeito inexpressivo, que não teria as mínimas condições de figurar sequer nos escalões inferiores da política nacional, chegar à presidência da república e emprestar o nome para apelidar um sistema (ou algo próximo disso). Em verdade, essa é uma das chaves de compreensão da conjuntura política brasileira hoje. Era preciso exatamente uma figura como Bolsonaro, com ares de novidade, devido à sua própria incompetência, já que em décadas de parlamento nunca fez absolutamente nada digno de nota, mas com toda a carga de conservadorismo capaz de atingir em cheio uma parte da população envolvida no discurso fácil da corrupção petista. Vale o clichê: Bolsonaro era o cara certo na hora certa.

O bolsonarismo – novo paradoxo – é um sistema simples com aparência complexa e por isso mesmo muito perigoso. A base discursiva está naquilo que o professor João Cezar de Castro Rocha chama de sistema de crenças Olavo de Carvalho, que nos anos 1990 surgiu como o porta-voz de uma nova direita, ou melhor, de uma velha direita repaginada, já que a essência da direita é a mesma desde que se pensou nela. Esta direita, que no fim daquela década ocupava o estranho posto de oposição, precisava se rearticular, mas para isso carecia de uma retórica que lhe desse sustentação, porque desde alguns anos já se via que o campo da esquerda transitava com desenvoltura na academia e nos espaços da cultura e, com Lula, um retirante nordestino, trabalhador braçal, começava a ocupar um espaço na população que não frequentava esses ambientes e que se via retratada naquela figura. Era, então, na guerra cultural que estava o caminho, e aí a participação de Olavo de Carvalho passou a ser decisiva.

A produção literária do guru dos bolsonaros está longe de ser desprezível, assim como é um grave equívoco (arrogância?) da elite intelectual carimbá-lo como um ignorante, charlatão etc. O homem era muito inteligente. Não no sentido tradicional da inteligência acadêmica, que estuda a vida toda, analisa tudo em pormenores à luz da ciência, discute os temas mais elevados entre pares; não, nada disso, a inteligência de Olavo de Carvalho era de outra natureza, muito mais pragmática e por isso mesmo próxima do que interessava aos inteligentes do poder, que detinham desde sempre o capital. Olavo muito cedo percebeu que a melhor maneira de vencer uma discussão era não dar ao adversário, transformado em inimigo, a chance de falar. Quantas vezes hoje, mesmo depois da extinção física do guru, se diz que com “bolsominion não tem como debater”? O próprio Bolsonaro venceu uma eleição sem participar de debates. Isso é um tipo de inteligência, e aqui não falo de Bolsonaro, que este é burro como uma porta, tanto que está botando a perder o projeto a que emprestou o nome, mas de Olavo de Carvalho. Tenho convicção que a arrogância e a megalomania de Bolsonaro teriam feito com que ele participasse dos debates em 2018, campo em que inevitavelmente seria trucidado, a começar pelo ilusionista Ciro Gomes, que tem na palavra um dos seus pontos mais fortes. Mas a estratégia armada passava por blindar Bolsonaro do debate sério, uma evidente inspiração olaviana. No palanque tudo bem, porque lá o que menos interessa é a solidez do discurso, e se precisa muito mais de algo próximo de um animador de auditório, um incitador de massas, e esse papel qualquer idiota, até Bolsonaro, era capaz de cumprir. E como a tensão era a tônica da política brasileira desde os protestos de 2013 e do golpe de 2016, com o discurso da corrupção petista consolidado pela Globo, nesse circo de horrores Bolsonaro não precisou sequer de grandes talentos dramáticos teatrais para simular o golpe decisivo na escalada ao poder. A sua atuação no atentado mais fake da história política mundial, quando o Messias foi atacado pelo Bispo, foi digna de um figurante das pornochanchadas do cinema brasileiro setentista. O resto já se sabe como foi.

Traçado esse breve desenho do esqueleto do sistema, é interessante pensar em mais um paradoxo, este que vai interromper a trajetória da famiglia no poder, o que não significa, como tenho repetido de forma enfática, o fim do bolsonarismo. A estrutura rasa do projeto, como se viu, foi dada por Olavo de Carvalho, com base na retórica do ódio (outro termo emprestado ao professor Castro Rocha), que passa pelo requentamento da paranoia do ataque comunista, o qual leva a uma revisitação da doutrina de segurança nacional, que depende das forças armadas etc. e tal. Entretanto, além de aniquilar o inimigo, seja pela impossibilidade do debate ou pela lavagem cerebral em torno da retomada dos valores tradicionais da família, feita em grande parte nos templos neopentecostais, era preciso também atender aos donos do poder no que têm de mais valioso, literalmente, que é o dinheiro. Assim, o bolsonarismo precisava de um anteparo econômico que estivesse habilitado a dar ao mercado, essa entidade etérea que domina o mundo, a segurança para apostar na plataforma protofascista do bolsonarismo. Entra em cena o posto ipiranga, com sólida formação na escola de Chicago e que já fizera o serviço no Chile: Paulo Guedes.

Ao mesmo tempo em que este representa um paradoxo, já que pode decretar o fim da continuidade do governo pelo que de mais sólido ele tinha, Guedes é, para mim, uma incógnita. Ele foi escolhido por quem escolheu Bolsonaro para dar a sustentação teórica e prática à agenda ultraliberal do projeto de governo. E foi blindado pelo governo e pelas suas forças de sustentação, a fim de poder fazer o trabalho sujo com tranquilidade. A Globo, que pelo menos desde o início da pandemia tem sido cruel com os bolsonaros, não disse até hoje uma só palavra contra o superministro, e o próprio Bolsonaro tratou de dizer, na reunião que derrubou o paladino da justiça e ex-potencial “terceira via”, que o único ministro com quem não precisava se preocupar era ele. Só que Guedes não conseguiu avançar quase nada em quase quatro anos além do que Michel Temer tinha conseguido em dois. As grandes reformas que destruíram a economia e a classe trabalhadora brasileira são obra feita no governo golpista de 2016-2018. O Chicago Boy, com todo o arcabouço técnico e doutrinário, não conseguiu levar ao cabo os projetos reformistas iniciados com Temer. E é aqui que as coisas ficam estranhas. Será que com toda a experiência e com a confiança que as elites econômicas lhe deram, Guedes foi incompetente para implementar com eficácia e na integralidade a parte econômica da plataforma (des)governista? Ou será que ele é mais diabo que o próprio diabo e usou os quatro anos de poder, a serem completados em breve, para fazer a sua própria política e engordar de maneira inimaginável as contas nos paraísos fiscais?

Eu tendo, neste momento, a pensar que o posto ipiranga é o grande golpista dessa fantástica equipe de golpistas. Tal como um roteiro pobre da tradição hollywoodiana de filmes destinados ao corujão, o inimigo estava no quarto ao lado e vai ser o único a sair ileso da implosão do desgoverno bolsonaro. Isso explicaria, talvez, o desespero da Globo e seus think tanks na busca por uma alternativa viável ao prosseguimento do projeto de poder que Guedes parece ter tomado para si. É preciso um novo posto, já que o ipiranga falhou. E talvez por aí, e só por aí, se tenham chaves pra entender o flerte de Lula com Alckmin e outras representatividades da direita. Esta última ainda não me parece a melhor estratégia, mas alguma coisa começa a se desanuviar no intricado tabuleiro de xadrez que as próximas eleições apresentam. Vamos manter os olhos vigilantes e a mente aberta às possibilidades mais impensáveis. Nunca se sabe de onde pode sair o próximo golpe.

*Imagem de destaque copiada de: https://www.apostagem.com.br/2021/03/20/guedes-assume-que-a-politica-economica-do-governo-bolsonaro-fracassou/. Acesso em: 6/2/2022.

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A resposta? Está no guru

A coluna é escrita com um ou dois dias de antecedência da sua publicação. Escrevo na segunda, dia 6 – a véspera. Não tenho elementos para dizer coisa concreta sobre a terça – o dia – que ultrapasse a fronteira das conjecturas. Acabei de ler um ótimo texto, cuja autoria não consta na postagem que um amigo fez num grupo de WhatsApp, que aborda as movimentações políticas coletivas da semana e antecipa o possível cenário da eleição. Conclui que Lula deve participar ativamente dos atos e que a Jornada Antibolsonarista do Sete de Setembro deve ser forte. São considerações óbvias, é verdade, mas é preciso que alguém as diga. Só que pouco vai adiantar que se chegue a uma espécie de acordo ou pacto sobre Lula ser o nome certo, ou pelo menos o nome possível, e de que precisamos tomar as ruas para exigir a queda de Bolsonaro, se não se entender minimamente o que é o bolsonarismo. Sem isso, o risco de que caia o homem mas não caia a ideia é muito grande. Já disse por aqui que o bolsonarismo é maior que Bolsonaro. Por paradoxal que pareça, se aproxima o momento em que Bolsonaro deverá ser descartado para que o bolsonarismo possa subsistir. Para entender isso, nada mais esclarecedor do que conhecer o pensamento do sujeito que conformou a prática do bolsonarismo e que tem uma dimensão tão grande no processo de construção e consolidação da plataforma protofascista de Bolsonaro que se aventa até a possibilidade que ele tenha morrido e a sua morte seja anunciada amanhã, a fim de criar uma narrativa heroica. Teorias conspiratórias à parte, falo do guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho, claro.

O discurso da militância bolsonarista foi articulado por Olavo de Carvalho. A técnica de desqualificar não só os argumentos como as pessoas que têm pensamento diferente, da qual Bolsonaro faz uso permanente, é uma proposição olavista. O Professor João Cezar Castro Rocha se dedica há algum tempo a compreender o bolsonarismo. Os seus estudos sobre o tema originaram o livro “Guerra Cultural e Retórica do Ódio: crônicas de um Brasil pós-político”, lançado no início de 2021 pela editora Caminhos. Trata-se de leitura fundamental. Uma das fontes em relação à matriz narrativa discursiva, sobretudo linguística, é a própria obra de Olavo de Carvalho. Em algum momento o Professor adverte que a leitura de Olavo é tarefa para gente de estômago forte e fígado perfeito, mas para quem quer realmente ter uma compreensão ampla e verdadeiramente sólida do que está acontecendo no braZil de Bolsonaro, é tarefa inescapável.

A síntese do olavismo, extensa muito mais em palavras do que em ideias, está nos livros publicados nos anos 90, que o próprio filósofo autodeclarado considera o mais abrangente conjunto literário sobre o Brasil em todos os tempos. A trilogia é composta por ” A nova era e revolução cultural”, “O jardim das aflições” e “O imbecil coletivo”, de 94, 95 e 96, respectivamente. No último livro, o sujeito inclui uma parte chamada “Manual do usuário de O imbecil coletivo etc.)”, que, segundo ele, é um texto lido por ocasião do seu lançamento, no Teatro da Cidade (Rio de Janeiro), em 22/8/1996. Nesta bula consta a seguinte pérola: “O sentido da série é, portanto, nitidamente, o de situar a cultura brasileira de hoje no quadro maior da história das ideias do Ocidente (…). Que eu saiba, ninguém fez antes um esforço de pensar o Brasil nessa escala. Meus únicos antecessores parecem ter sido Darcy Ribeiro, Mário Vieira de Mello e Gilberto Freyre (…)”. Na sequência explica o porquê de ser a obra dele maior.

Não seria sacana o suficiente para sugerir que alguém lesse os três livros, mas, reforçando a necessidade de que se conheça o pensamento olaviano, “O imbecil coletivo” é bastante elucidativo. Uma das estratégias que estrutura o modus operandi aparece já na abertura do livro. A crítica da crítica (rasteira e virulenta, como é da característica do autor) neste momento é direcionada ao que ele chama de intelligentzia imbecilizada e imbecilizante brasileira, exemplificada com Paulo Roberto Pires, Emir Sader, Leandro Konder, Muniz Sodré, Gerd A. Borhein e André Luiz Barros. Olavo inclui no volume um “Formulário-padrão para a redação de críticas a ‘O imbecil coletivo'”, composto de seis questões, com três opções cada, do qual se pode extrair uma definição, que, segundo ele, já foi feita pelos pensadores citados. A minha, a partir das orientações disponíveis é: “O. de C., autor desta escandalosa polêmica, pretende implodir a cultura brasileira. É um sujeito cheio de incompreensão dos caracteres específicos da cultura brasileira. Torna-se evidente que a mentalidade deste autor é autoritária e prepotente. Ele está manifestamente fora de si. No fundo, ele nos parece movido por ambições políticas sórdidas.” Há outras possibilidades de construção, mas esta me parece ser aquela que o próprio Olavo gostaria de apresentar, pois reúne o que as mentes rasas, que constituem o padrão do sujeito bolsonarista, adoram: agressão violenta a quem pensa diferente, mascarada de humor ácido e ironia sobre si mesmo, mas com o efeito de rebaixar o interlocutor.

Bolsonaro é versado nos recursos retóricos olavistas e tratar adversários/as pelos termos mais baixos é hábito notório. Mesmo quando o adversário é o próprio povo: “país de maricas”, por exemplo. A auto-ridicularização é artifício comum, também. Outro não pode ser o sentido de divulgar imagens em que espanta uma ema com uma caixa de cloroquina. E assim, enquanto a grande mídia gasta o precioso (e caríssimo) tempo de seus espaços jornalísticos dando voz a pilhas de manifestos e notas de repúdios de pessoas e instituições moralmente atingidas pela gosma presidencial, invariavelmente sem nenhum efeito prático, e o público descolado se diverte criando memes, a boiada passa.

É evidente que a contribuição olavista para a ideologia bolsonarista vai muito além de ideias para escancarar a própria imbecilidade, com o perdão do trocadilho. É preciso aprofundar o entendimento das particularidades da guerra cultural promovida pelo olavo-bolsonarismo. No âmbito dos seus interesses mais privados, porém, Bolsonaro já pressente há algum tempo a proximidade da exposição das cabeças da família em bandeja de prata e por isso recorre aos séquitos ainda fiéis na tentativa desesperada de dar contornos clássicos à guerra que imagina possa lhe garantir a permanência no poder e até mesmo a liberdade. A última tentativa de Bolsonaro pode acontecer neste 7 de setembro e tudo vai depender de como as forças militares vão se posicionar. Nesse sentido, encontrando grande resistência nas Forças Armadas, talvez receosas de embarcar em mais uma aventura golpista, mas ainda assim relativamente satisfeitas pela posição de destaque no governo, que possibilita até a promoção ao marechalato, ele tenta arregimentar as polícias estaduais, principalmente as militares, e a grande contingência de civis por ele armados. É possível que não havendo carros de combate nas ruas por conta do cancelamento das paradas militares, vejamos tratores e outros maquinários agrícolas conduzidos por ruralistas autorizados a reprimir ameaças às suas propriedades, ainda que conquistadas de forma ilegítimas, à bala.

Imagem copiada de: https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/07/4940245-planalto-homenageia-dia-do-agricultor-com-imagem-de-homem-armado.html. Acesso em 7/9/2021.

O que vai acontecer depois deste dia de celebração da nação (povos originários excluídos) não se sabe, mas é cada vez mais clara a necessidade de compreender o bolsonarismo para poder matar o monstro inteiro e não apenas cortar uma das suas cabeças. Derrubar Bolsonaro é só uma etapa da luta antibolsonarismo. E, como o antídoto parte do veneno, ler o guru, por mais indigesta que seja, é missão imprescindível.

*Imagem de destaque copiada de: https://lavrapalavra.com/2019/06/18/olavo-de-carvalho-o-inimigo-doconhecimento-ou-o-verdadeiro-imbecil/. Acesso em: 6/9/2021.

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O Bozo é apenas um palhaço

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Esclarecimento inicial: ao dizer que o Bozo é apenas um palhaço, não quis de maneira alguma desmerecer a profissão. Pelo contrário, como se verá adiante, a intenção é justamente fazer um desagravo ao palhaço, cujo nome é frequentemente associado ao ser que (des)governa o Brasil (deveria dizer Brazil?) atualmente, e consequentemente a todos os palhaços e palhaças do Brasil.

Uma tradição do cristianismo diz que os fiéis não devem pronunciar o nome do diabo. No Brasil essa orientação deu origem a um sem número de apelidos para o Coisa Ruim: Maligno, Sete-Peles, Inimigo, Tinhoso, Capeta, Capiroto, Peralta, Desgraçado, Maldito, Anjo-Mau, Pai-da-Mentira, Chifrudo, Mafarrico e por aí afora. 

Talvez por motivos semelhantes, e não sem razão, muitas pessoas evitam pronunciar e até escrever o nome do presidente da república. Bozo é um apelido que se consagrou na linguagem popular. É uma tremenda sacanagem com o palhaço Bozo que o seu nome seja usado para referir o fascista que se instalou no Planalto.  Porém, mais do que correr o risco de desagradar ao criador do personagem palhaço, não chamar Bolsonaro pelo próprio nome cria um certo distanciamento entre o homem e o personagem, que neste caso é um palhaço no mau sentido. 

O hábito de dar apelidos às pessoas e coisas é caro ao povo brasileiro e em geral advém de uma manifestação de carinho. Por vezes o próprio apelido é apelidado: Zezinho é Zé, que já é o apelido de José. Em geral quando se chama um José de José há uma conotação mais formal. Na intimidade, o José é simplesmente Zé, e se ela for ainda maior, vira Zezinho. Mas quando a mãe está braba, ela chama o sujeito pelo nome verdadeiro. Se for Zé e tiver outro nome junto, vão os dois: José Carlos! Se a gravidade da chamada for extrema, vai até o sobrenome: José Carlos de Tal!!! 

Há casos em que os apelidos são usados para associar elementos negativos ao verdadeiro nome. A Ação Penal 470 ficou conhecida no Brasil e no mundo por Mensalão. Mensalão é um nome pesado. Em outros momentos o efeito é contrário e se transforma praticamente em eufemismo. Chamar de “rachadinha” o esquema de corrupção praticado por muitos (e muitas) agentes políticos brasileiros, inclusive por Flávio Bolsonaro, de certa forma atenua a gravidade do crime. No mínimo alivia um pouco a carga.  

Temos, você e eu, algum carinho pelo presidente da república ou qualquer intenção de melhorar a imagem dele? Não. Então por que vamos chamá-lo pelo nome de um personagem criado para o público infantil, que tende a despertar certa simpatia nas pessoas? Por outro lado, Bolsonaro não precisa de nenhum apelido para tornar a sua imagem ainda mais nojenta e asquerosa. Então, se começarmos a chamar Bolsonaro de Bolsonaro, é provável que em pouco tempo este nome esteja inapelavelmente associado ao que ele de fato representa: um clã de bandidos. 

O Professor João Cezar de Castro Rocha* vem estudando o bolsonarismo há algum tempo, em especial a guerra cultural, que é por onde se consolida esse projeto de poder, cuja estrutura de linguagem foi criada e sistematizada por Olavo de Carvalho, muitas vezes menosprezado, talvez em face da caricaturização que ele tratou de fazer de si próprio ao longo do tempo, mas que é, na verdade, um homem de inteligência superior, podendo-se mesmo dizer que o bolsonarismo seria melhor caracterizado se chamado de olavismo. Estes dois termos, caricaturização e caracterização, são centrais no pensamento do Professor João Cezar, que defende que devemos justamente passar de uma à outra, ou seja, devemos deixar de tratar o bolso-olavismo, e os próprios personagens (família Bolsonaro, Olavo de Carvalho, ministros aloprados do governo etc.), como caricaturas e passar a caracterizá-los como instrumentos de uma plataforma política nefasta, que tem na produção de escândalos e notícias absurdas um dos mais fortes artifícios para levar em frente a sua implementação. Enquanto o povo se distrai com as pataquadas de Weintraubs e Ernestos Araújos da vida, o chicago boy Paulo Guedes vai passando a boiada do seu plano econômico que atende aos interesses das elites, sem ser importunado nem mesmo pelos neopaladinos da justiça social que apresentam o Jornal Nacional. (Quantas vezes o ministro da economia e a sua pasta foram criticados no telejornal mais assistido no Brasil?)

Chega de dourar a pílula, porque é chegada a hora de dar nomes aos bois, mesmo que eles sejam palhaços (novamente no mau sentido): Bozo é Bozo; Bolsonaro é Bolsonaro. 

*Para conhecer ou aprofundar o pensamento do Professor João Cezar de Castro Rocha, algo que recomendo muito, pode-se começar por aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=kMRFjMDfpMs 

(Foto de destaque copiada de https://www.bbc.com/portuguese/brasil-50810066, visitado em 7/6/2021)

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