Arte, Música, Republicados

Até a arte tem que ter limites – ou: cara de pau (lo ricardo)*

Certas pessoas deveriam ter mais escrúpulos. Ou pelo menos vergonha.

Descobri ontem, com mais de duas décadas de atraso, que o Paulo Ricardo, contra quem não tenho nada, e muito menos contra os seus fãs, gravou uma versão de Flores Astrais. Repito que não tenho nada contra o PR ou o RPM. Não gosto da música da banda, mas acho que eles têm seu valor sob algum aspecto, afinal tanta gente gosta e muito deles.

Mas, putz, fazer uma versão miserável, desculpem os fãs, mas é isso que eu posso dizer depois de ter ouvido 17 segundos no youtube, de uma música maravilhosa como essa é uma baita sacanagem.

A questão, nesse caso, é deturpar a ideia da criação artística. Por exemplo, os caras do Sambô são legais, fazem umas versões bacaninhas e coisa e tal, mas sambalizar (se o Guimarães Rosa podia eu também posso criar meus neologismos) uma música com o teor de Sunday Bloody Sunday, por favor!!

Não se trata de fazer o que eu critiquei outro dia, sobre os entendidos-de-bosta-nenhuma que ficam querendo interpretar o que o artista quis dizer, mas no caso U2/Sambô, a coisa é bem simples, porque a música tem um contexto explícito de protesto e revolta, exprime dor e indignação, e daí os caras ficam cantando ela como se fosse uma coisa alegre, festiva e tudo mais. Quem gosta, gosta, mas pra mim não serve.

Quanto a Flores Astrais, há toda uma história por trás da composição, que leva em conta a época, o regime de exceção, a subversão de alguns conceitos arcaicos de arte, o pensamento elitizado dos “detentores do conhecimento”, e por aí vai. Então, ao fazer uma versão, o que de forma nenhuma estou condenando, os caras deveriam levar em conta esses aspectos que estão escondidos atrás do produto final que é a música.

Digo de novo, perdoem-me os fãs, mas acho que isso foi uma baita bola fora do Paulo Ricardo, exceto, é claro, pelos aspectos comerciais e mercadológicos, mas, ainda acredito na ideia de que a arte, e a música como tal, é algo um pouco além de business.

*Publicado originalmente no blog Na Cidade de Cabeça pra Baixo, em 26/4/2013.

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