Direitos Humanos, Linguística, Política

O tal do Lácio lá é planta pra dar flor?

Na semana passada, conversava com dois queridos amigos sobre questões de gênero, especificamente linguagem inclusiva e leinguagem neutra. Nenhum desses meus amigos se importaria que eu citasse os seus nomes aqui, mesmo porque eles têm opiniões fortes e muito consolidadas, das quais não se envergonham e nem têm medo de expor, por isso as defendem em qualquer debate. Entretanto, ainda levo a sério os preceitos éticos, e como não pedi autorização para declinar os nomes, não vou fazê-lo.

Esses meus amigos, que se não me engano nem se conhecem pessoalmente, têm muitas coisas em comum e a maneira como entendem este tema é basicamente a mesma. Para eles, as pautas identitárias, que são normalmente associadas à Esquerda, foram capturadas pelo capitalismo, viraram discurso da burguesia. Ambos têm argumentos fortes na defesa dessa ideia, que passam pelo fato de que essas lutas, segundo os próprios, acabam por deixar de lado ou colocar em segundo plano os problemas decorrentes do desequilíbrio das classes sociais, em outra palavra, a luta de classes. Esse debate dá pano pra manga. Pode começar na discussão objetiva sobre a precedência da luta de classes sobre as das liberdades individuais e/ou de grupos não hegemônicos e chegar até um embate filosófico sobre stalinismo, trotskismo, imperialismo, colonialismo, e outros tantos ismos. Não é o caso, não pretendo ir tão longe por aqui.

O uso das linguagem neutra e inclusiva é um assunto que me desperta grande interesse, mas sobre o qual ainda não tenho opinião bem formada. Em relação à língua, o que mais me atrai a atenção é a maneira como ela pode ser manipulada para manter sistemas de opressão e poder. Um exemplo contundente: por mais títulos de Doutor Honoris Causa com que possa ser agraciado, o Lula sempre vai ser tratado pelas1 que dele não gostam – e muitas vezes até por quem gosta – como um analfabeto, na melhor das hipóteses funcional. Por mais absurdo que seja acreditar que alguém que não sabe falar chegaria ao maior cargo eletivo do país e conquistaria respeito e admiração mundo afora. Aceitar isso seria mesmo desqualificar as universidades que lhe concederam títulos honoríficos, mas é o que se diz por aí: “Lula é um analfabeto, um capiau!”. Se pelo menos dissessem que é um doutor capiau… Isso mostra que língua (também) é política, nos sentidos concretos e abstratos do termo, porque, por exemplo, muitas das que se beneficiam dos programas sociais implementados durante o governo Lula não vão votar nele por ser um “analfabeto”. E o pior é que um grande número dessas nem se deu conta que votou em 2018 num sujeito, este sim, de pouquíssimas luzes. (Apenas para não deixar passar “in albis”, a impossibilidade ou dificuldade de falar está necessariamente relacionada a problemas de saúde, como malformação do aparelho fonador, transtornos neurológicos etc.)

Política institucional colocada em stand by, voltemos à vaca fria. Engenharia é uma ciência. Uma leiga, que nada entende dos cálculos matemáticos necessários a um projeto de construção de um prédio ou de abertura de um túnel, não discutiria com a engenheira responsável pela obra e muito menos diria que eles, os cálculos, estão errados. Mas em se tratando do uso da língua, ela não teria nenhum receio em corrigir alguém que fala pobrema por problema, mesmo que as CIENTISTAS linguísticas já tenham feito exaustivos estudos e comprovado que isso não é um erro, apenas uma variação, provocada por diversos fatores, às vezes até fisiológicos. (Abro um parêntese – parentesis, talvez? – para render uma homenagem à profissão das engenheiras, que conseguem, a partir de uma ciência hermética, Matemática, fazer tudo o que fazem. Fecha parênteses.) A propósito de erro, não é tão incomum vermos um pé de fruta, laranjeira, por exemplo, dar eventualmente um fruto um pouco diferente do padrão daquela árvore, maior que as outras, de cor ou formato um pouco diferente. Pensando melhor, vou dar um exemplo mais radical pra chegar aonde (ou onde?…) quero: há pessoas que nascem hermafroditas2. Ora, o padrão da espécie humana é que uma pessoa nasça com um aparelho reprodutor masculino ou feminino, mas não com os dois (e obviamente estou falando sem nenhum rigor científico, como determina a minha condição de leigo). No caso de alguém que tenha nascido com testículos e ovários, posso então dizer que essa pessoa nasceu errada, não posso? Assim como posso chamar de errada a laranja que nasce um pouco diferente do padrão das outras da mesma árvore. Não posso? Não? Devo aceitar isso como algo natural, raro, mas natural? Estranho! Então por que cargas d’água posso carimbar alguém que fala diferente de mim, ou melhor, alguém que fala diferente do que as gramáticas normativas determinam, como uma má falante? Sendo mais claro, como posso dizer simplesmente que essa mulher fala errado? Eu não digo que a laranja diferente está errada, mas digo que está errada a moça que fala frecha quando deveria falar flecha. Por quê?

A gramática, aquele livro chatíssimo que a gente estuda no colégio e desde o primeiro ano primário até o último do ensino médio tenta nos ensinar (e não consegue) que o certo é dizer voz fazeis e não vocês fazem, é simplesmente um código que busca sistematizar algumas questões da língua, a fim de facilitar as comunicações escritas ou eventualmente destinadas a um ambiente mais formal. Acabei de descrever um pedaço de um mundo ideal que não existe, porque infelizmente não é assim que a banda toca. Elas, as guardiãs da língua, conseguiram botar a carreta pra puxar o caminhão. Podemos fazer uma analogia com o Direito, área em que, a propósito, ainda se valoriza muito a língua “correta” (castiça, segregatória, horrorosa, enfadonha…), a Última Flor do Lácio, a nossa inculta e bela Língua Portuguesa, como dizem as românticas da língua de Camões. O Código Penal diz o que é ou não crime nas condutas sociais. Mas pra fazer isso, a legisladora parte da observação dos comportamentos humanos, verifica as condutas que causam problemas nas relações entre as mulheres, codifica e cria mecanismos pra evitá-las e, se for o caso, puni-las. Imaginem, então, se amanhã essa legisladora resolver que começar uma caminhada usando o pé esquerdo é crime. As inúmeras pessoas que usam o pé esquerdo pra dar o primeiro passo vão ser consideradas criminosas. Por outro lado, o senhor Napoleão Mendes de Almeida, a senhora Dad Squarisi e tantas outras, incluindo as que elaboram as provas dos vestibulares, dizem que uma pessoa não pode dizer… (“dizem que uma pessoa não pode dizer”: que repetição feia!), enfim, dizem que uma pessoa não pode falar “a gente vai” porque o certo é “nós vamos”. E vejam que estou dando como exemplo uma construção que nem é tão estigmatizada, mas substituam “a gente vai” por “nóis vai”. Posso ver as caras de nojo das gramáticas de plantão! Agora me digam se alguma dessas paladinas da norma… culta vai corrigir publicamente o Sílvio Santos pelos inúmeros “erros” dele ao falar, ou, como adoram dizer, pelos assassinatos contra o português que o hômi do baú comete todos os dias. Já a motorista do carro do patrão, se trocar bão por bom vai ser trucidada. O mundo não é tão bão, Sebastião…

Imagem copiada de: <https://www.saci.ufscar.br/servico_clipping?id=1194.&gt; Acesso em: 19 de jan. 2022.

Uma última situação hipotética pra encerrar (se é a última só pode ser pra encerrar…): duas pessoas ascendem socialmente e conquistam destaque social, poder e riqueza. Não obstante (agora mandei bem!), continuam a falar e até escrever de acordo com as variantes linguísticas em que se comunicam melhor. Uma é branca e outra é negra. Qual vai ser chamada de analfabeta?

O preconceito linguístico é cruel, um dos mais cruéis, na minha opinião, porque vai direto na subjetividade da pessoa e naquilo que pode ser considerando o único patrimônio inerente à sua condição humana, que é a língua. “Minha pátria é minha língua”, cantou Caê (ou foi outro Pessoa?). E é ainda mais cruel porque é disseminado em quase todos os ambientes, principalmente nas escolas tradicionais, que estabelecem níveis para enquadrar as alunas de acordo com a sua capacidade ou falta de capacidade de conjugar o verbo fazer no pretérito mais-que-perfeito do subjuntivo. É mais-que-passada a hora, então, de incluir com força o preconceito linguístico na paleta das lutas.

Agora que cheguei ao fim, alguém deve estar se perguntando porque eu falei lá no início sobre a conversa com os meus dois amigos, se pouco falei de linguagem inclusiva, que era o tema do papo, afinal. Ora, fi-lo porque qui-lo!3 Mas acho provável que volto a esse assunto quando tiver uma opinião pouco mais consolidada, como os meus amigos.

*Imagem de destaque copiada de: <https://redes.moderna.com.br/2017/06/29/preconceito-linguistico-combate/.&gt;. Acesso em 19 de jan. 2022.

1A marca universal de gênero será sempre feminina neste texto.

2Hermafroditas é termo em desuso, que foi mantido no texto apenas para maior clareza da ideia que se quer expressar. Para a espécie humana se usa a palavra intersexual e na Biologia monoica e dioica, respectivamente para a presença ou não dos dois aparelhos reprodutores na mesma indivídua.

3À guisa de explicação, pra que não fiquem pontos sem is, diz que o velho JQ mandou mal nessa, porque o “certo” é fi-lo porque o quis.

Padrão
bolsonarismo, Educação, Ideologia, Militarismo, Política

Uma pessoa de terceira categoria

Sei que é uma bela carreira

mas não tenho a menor vocação

se fosse tão bom assim

não seria imposição

Raulzito

Se me perguntarem hoje qual o documento mais importante que eu tenho, digo sem hesitar que é a Carteira de Vacinação (e a carteira do Parque Gigante sempre, obviamente). Mas eu me lembro da emoção quando tirei a primeira identidade. Isso era uma espécie de rito de passagem para a vida adulta (se soubesse que era desse jeito tinha pedido pra ficar na infância, mas enfim…). A emissão da CTPS – Carteira de Trabalho e Previdência Social, que era um livrinho com espaço pra vários carimbos, foi outro momento marcante. Agora já podia bater na porta das firmas pra ver se tinha vaga de boy, profissão que exerci com muito orgulho até os 18 anos. E era justamente o 18 anos que me apavorava. Não que significasse grande coisa passar a ser adulto de fato e de direito pra alguém que já trabalhava desde os 13 (era antes da CF/88) e não tinha muito interesse em ver filme pornô no cinema. O problema é que o ano da maioridade era também o ano do alistamento e muitas noites mal dormidas eu tive pensando que teria que prestar o serviço militar obrigatório. Que pavor! Assim, o momento em que o tenente que coordenava as coisas me disse pra voltar dali a dois ou três dias jurar a bandeira e pegar a “terceira” (certificado de reservista) foi um dos mais felizes da minha vida.

Por que o serviço militar é obrigatório? E por que essa obrigação só existe para as pessoas do sexo masculino? E o que se faz lá dentro do quartel? São perguntas que não têm resposta muito difícil, mas dá muita polêmica, então vamos passar batido por elas.

Há quem aponte a Igreja Católica, mas eu tenho muita convicção em dizer que as Forças Armadas são a instituição mais retrógrada, obsoleta, anacrônica, datada, atrasada etc. etc. etc. que existe. E violenta. Que preparo psicológico e emocional terá um guri de 18, 19 anos pra empunhar um fuzil? Alguém dirá que é justamente essa condição que vai ser trabalhada no quartel. Pode ser, mas uma pesquisa séria sobre os casos de gente que sai transtornada depois de cumprir o serviço militar e outra sobre os casos de acidentes provocados por erro no uso de armamentos e ainda uma terceira sobre o número de suicídios dentro das organizações militares certamente vão flexibilizar um pouco esse entendimento.

Acho que ninguém vai negar que a juventude é um momento de grandes inquietações e transformações na vida de uma pessoa. Quem não tem a característica de ser questionador/a na transição para a vida adulta está no grupo das exceções. Um bom exercício de reflexão, então, é dar uma olhadinha rápida em algumas regras básicas de conduta (aparência) para os alunos e alunas do Colégio Militar de Porto Alegre:

*Acervo do autor
*Acervo do autor

Não acho que seja de todo ruim ter certas regras de disciplina em qualquer fase da vida. Somos seres gregários/as, nos relacionamos com outras pessoas durante toda a vida e, obviamente, algumas normas precisam ser determinadas para que possamos atravessar essa vida numa boa. Mas que diferença vai fazer se o guri andar na rua sem a boina do colégio? E se o rabo-de-cavalo da guria não estiver 100% acordo com a norma, que prejuízo isso vai causar para a imagem dela e do colégio?

Passemos para outra perspectiva das observações sobre a educação militar. No Casarão da Várzea, que é o nome por que é conhecido o Colégio Militar de Porto Alegre, o nome que mais se vê referenciado em placas, portas, salas é Castelo Branco. Às vezes CasteLLo Branco, porque dois L talvez confira mais dignidade. Este herói brasileiro se não torturou pessoalmente (e até acho que sim) mandou torturar ou pelo menos autorizou que se torturasse muita gente. A biblioteca chama-se Castel(l)o Branco e ostenta este quadro na parede atrás das estantes:

*Acervo do autor
*Acervo do autor

Peço que atentem para os detalhes da pintura, as expressões dos personagens, reparem particularmente na imagem do sujeito que está no canto esquerdo inferior. E vejam a descrição que está nesta frase: “Imutáveis, apenas a calça garança e a concentração dos alunos, fruto de cultivado senso de dever e disciplina, tal como hoje.” Honestamente, olhei o quadro ao vivo por vários minutos e a partir de vários ângulos e tudo o que vi foi um bando de jovens deprimidos submetidos a uma situação vexatória, fazendo um exercício sem nenhum sentido, vestindo roupas totalmente inadequadas, ouvindo o que deve ser certamente uma marcha exortando à guerra e à violência, enquanto dois superiores (SUPERIORES) conversam com um ar de… superioridade. Será que a calça garança (seja lá que raio é isso) é que mantém a disciplina e a honra da entidade? Ou será a concentração dos alunos?

Essas observações ligeiras sobre a questão geral do militarismo podem dizer muita coisa sobre o braZil bolsonarista. A imposição do respeito pelo medo e pela ameaça permanente de punição, que é a norma da educação militar, se reproduz no discurso de Bolsonaro. Que outra razão que não medo teriam as instituições para não darem fim a um governo que diariamente promove a violência, a ruptura do pacto democrático, propaga mentiras em rede que colocam em risco a vida de milhões de pessoas, enfim, por que ainda não caiu o governo que já cometeu tantos crimes, inclusive aqueles de responsabilidade, pressuposto para o processo de impeachment? Será que se o staff militar do governo não fosse tão grande e não estivesse em permanente processo de crescimento Bolsonaro ainda seria presidente? Não fosse Hamilton Mourão o vice-presidente, o governo já não teria sido destituído?

Parece cada vez mais evidente que o que sustenta Bolsonaro no poder é a caserna. E, sendo assim, pensando que o militarismo tem grande responsabilidade pela tragédia braZileira de Bolsonaro, não posso não sentir orgulho de ser uma pessoa de terceira categoria.

*Imagem de destaque copiada de: <https://maraba.pa.gov.br/semed-colegio-militar-rio-tocantins-realiza-formatura-da-1a-turma-do-ensino-medio/&gt;. Acesso em: 26 de out. 2021. (A imagem foi editada para que não seja possível identificar nenhuma pessoa.)

Padrão
Cultura, Educação, Língua Portuguesa, Linguística, Política, Republicados

Língua e (é) liberdade*

As observações, afirmações e comentários que seguem são de um livrinho (ele mesmo chama assim, mas na verdade é um LIVRÃO) do saudoso professor Celso Pedro Luft, que recebeu o mais que apropriado nome de “Língua e liberdade”. A edição que eu tenho é a 8ª (5ª impressão), de 2002, da editora Ática. Na transcrição foi mantida a grafia original, anterior à norma vigente. Os grifos constam no original, salvo aqueles referidos expressamente. 

Leiam, pois, divirtam-se, pensem, reflitam, falem, escrevam, publiquem.

Capítulo 1 – Subversão lingüística?


1.1 O importante é comunicar


Qualquer ato de comunicação só é possível mediante a aplicação de todas as regras nele envolvidas. Mas, todas elas, regras naturais, da 
gramática natural, interior, dos falantes; na sua imensa maioria, regras que não são conscientes, não se explicitaram ou verbalizaram, nem se poderiam ter presentes ao falar ou escrever. (p. 16)

A língua toda: semântica, léxico, morfologia, fonologia e fonética – tudo é questão de USO. Vale o que a comunidade dos falantes tacitamente (raro explicitamente) determina que vale. A língua é autodeterminada pelos seus usuários. (p. 17)

O estudo da Gramática é indispensável para dominar a língua? Não;indispensável é aprender a língua, que contém a gramática. Indispensável é aprender a dominar o meio de comunicação. (p. 18)

1.2 Gramática e comunicação

Raros os grandes escritores familiarizados com regras de Gramática; e raros os familiarizados com a Gramática que sejam escritores.
(p. 19)

A boa comunicação verbal nada tem a ver com a memorização de regras de linguagem nem com a disciplina escolar que trata dessas regras, e que geralmente, em nossas escolas, toma o lugar do que deveriam ser as aulas de Português: leitura, comentário, análise e interpretação de bons textos, e tentativa constante de produzir, pessoalmente, textos bons – enfim, vivência criativa com o idioma. (p. 19)

Nada mais errôneo do que imaginar que “grandes escritores” escrevam “difícil”. (p. 20)

A Gramática disciplina ou livro, código normativo, está à margem dessas operações de talento. Não passa de um discurso assistemático e extremamente lacunoso a respeito das operações comuns. Discurso lacunoso? Sim: incontáveis regras, aplicadas na mais comum das linguagens, nunca foram sequer lembradas pelos gramáticos.” (p. 20)

Um ensino gramaticalista abafa justamente os talentos naturais, incute insegurança na linguagem, gera aversão ao estudo do idioma, medo à expressão livre e autêntica de si mesmo. (p. 21)

Vejam a estranha linha de “progresso” no nosso ensino de língua materna. Geralmente, nos começos de sua vida estudantil, a criança é levada a lidar com a língua, a ler e contar histórias, oralmente ou por escrito. Mas lá adiante, à medida que suas folhas se enchem de correções do professor, e ela é censurada na sua linguagem, submetida a normas puristas, à observância da Gramática, a criança perde a espontaneidade, e parte importante de sua personalidade se encolhe, fica tolhida, murcha. (p. 21)

Só línguas mortas são retratáveis num 
corpus fechado de regras. Portanto, o livro-gramática deveria estar sempre sendo revisto e atualizado, como todo bom dicionário. (p.22)

1.4 Escritores e Gramática

(…) é possível ser ótimo em português e ao mesmo tempo péssimo em aulas de Português. 
(p. 23)

Minha experiência de professor me ensinou que os alunos mais talentosos em linguagem, futuros escritores, são os mais avessos a aulas de Gramática. (p. 24)

Essa relação Escritores-Gramática me trouxe à mente a observação de Lins do Rego a propósito de Lima Barreto: “Os grandes escritores têm a sua língua; os medíocres, a sua gramática”. (p. 25)

1.7 O estudante de Português

(…) língua e gramática hão de ser muito mais do que aborrecimento em sala de aula, com muita regra e pouco texto, muita decoreba e pouca compreensão, muito susto e pouco prazer. 
(p. 30)

(…) o sistema de regras intuitivamente internalizado desde a infância, aperfeiçoado à medida que o indivíduo cresce intelectualmente, e compartilhado, também intuitivamente, pelos membros da comunidade, mesmo os que não vão à escola e nunca aprenderam a ler(p. 30) (Grifo meu.)

Em matérias de aulas de linguagem, infelizmente, a escola continua rotineira e bitolada: acúmulo de definições, regras e exceções, classificação de palavras, listagem de anomalias e irregularidades, conjugações inusitadas, análises, muita análise sintática. E, naturalmente, crase, a cada semestre mais crase, para saber cada vez menos (ou não é exatamente isso que a experiência mostra?)… (p. 31) (Grifo meu.)

1.8 Vida e artifício: gramática e Gramática

Infelizmente é muito expandida (mesmo entre pessoas cultas) uma noção ingênua de gramática como conjunto de regras que gramáticos, professores, academias ou outra autoridade não-identificada impõem, regras que devem ser observadas por todo aquele que queira falar ou escrever certo. 
(p. 31)

A essa afirmação, faço uma observação. Em alguns casos, como na maioria dos professores de Português de ensino básico, esse normativismo é de fato ingênuo. Entretanto, a história nos apresenta a língua como um dos mais eficazes instrumentos de segregação e manutenção de poder. Quando se convence uma pessoa que ela não sabe se expressar “corretamente” na sua língua materna, isso faz com que ela se sinta insegura frente a outras que supostamente detêm esse conhecimento. É muito comum, por exemplo, que os cidadãos mais humildes, cultural e economicamente falando, votem em candidatos que falam “difícil”, por julgar que esses são cultos e letrados o suficiente para desempenhar bem o papel que lhes cabe como representantes do povo. A história recente do Brasil nos mostra que isso é uma premissa falsa, porque, ideologias e posições políticas à parte, um dos maiores presidentes que o país já teve, conserva muito pouco dessa “cultura superior”, e mesmo os seus detratores só conseguem usar as suas supostas limitações linguísticas de forma acessória nas críticas que lhe são feitas. Mais adiante se verá que essa ideia do uso da língua como fator de dominação social é compartilhada pelo Professor Luft. 

Capítulo 2 – A teoria da linguagem

2.2 Essa gramática verdadeira


1. Esse sistema de regras que os falantes internalizam na infância é que constitui a 
verdadeira gramática da língua, a legítima, a autêntica, da qual todas as demais (livros, teorias de gramáticas, filólogos e lingüistas, etc.) não passam de reproduções. E não há como não acrescentar: por maiores e melhores que sejam, tais reproduções são inevitavelmente incompletas e defeituosas.

2. A 
gramática (saber lingüístico internalizado) dos falantes é sempre completa: sistema de todas as regras necessárias para se poder falar. Mesmo a criança de cinco ou seis anos que já fala com desembaraço, e o mais humilde dos analfabetos, necessariamente dominam a gramática completa que preside seus atos de fala. Do contrário, não haveria como falar. (p. 36) (Grifo meu.)

             4. Em que consiste essa construção de uma teoria lingüística por parte da criança? É um lançamento e verificação de hipóteses (…) (p. 37)

Pode-se depreende, na evolução da linguagem infantil, o caminho e efeito parcial ou provisório dessas hipóteses. Há estágios verdadeiramente clássicos. A chamada 
regularização, por exemplo, mostra a criança aplicando rigorosamente, também a formas sujeitas a casos especiais, as regras gerais que á internalizou. Assim, *fazi ou *trazi, pela aplicação das regras que geram as formas regulares como bati, comi, etc.; *abrido, *cobrido, *fazido, *escrevido, pelos modelos regulares dormido, comido, batido, etc.; *eu pego tu; *não empurra eu; *mais grande, *mais bom, como mais alto, mais fraco; etc. Idiossincrasias da morfologia e da sintaxe precisam ocorrer e repetir-se nos dados (falas, frases) para que a criança-teorista levante novas hipóteses até depreender e fixar também as regras especiais. (p. 38)

5. (…) A criança e o falante não escolarizado sabem tudo aquilo que precisam para falar em seu nível de comunicação. Apenas não conhecem os termos técnicos, os nomes daquilo que sabem. (p. 38)

É ilusão grosseira imaginar que se sabe a língua porque se estudou a Gramática¹. Já sabemos que esta (disciplina, livro) não recobre o sistema completo da gramática natural e, no que recobre, mostra incoerências, assistemacidade, lacunas.

Estarei exagerando? Então façam um estrangeiro aprender português estudando gramáticas, decorando regras e vocabulários, sem conviver com falantes da língua…


¹ “Nunca é demais repetir que aprender português unicamente pela gramática é tão absurdo como aprender a dançar por correspondência. Aprende-se a escrever lendo, da mesma  forma que se aprende a dançar bailando.” (Mário Quintana. 
Da preguiça como método de trabalho. Rio de aneiro, globo, 1987. p. 29) (p. 39)

              “(…) a verdadeira língua é a fala. (p. 39) (Grifo meu.)

Letras e outros sinais servem apenas para representar o que alguém falou, o que vai ou poderia falar. (p. 39)

2.5 Passos de um ensino equivocado

(…) o aluno faz redação – não para se expandir lingüísticamente e esgrimir idéias e argumentos, nem para aprender a estruturar e disciplinar o seu pensamento por escrito -, 
o aluno faz redação para o professor corrigir. (p. 46)

2.7 Consequências maléficas do ensino gramaticalista

E se convence o falante nativo de que ele não sabe a língua que fala, nem a saberá nunca, pois saber gramática (dominar regras intuídas, internalizadas) passou a confundir-se com saber Gramática (conhecer regras explícitas, em geral mal explicitadas).


Parece explicado por que a gramática, na versão escolar de aulas de Português, é tão desamada, detestada mesmo, pela maioria dos jovens. Não só é difícil amá-la; é preciso defender-se dela para resguardar o direito de se expressar natural e livremente. 
(p.49)

Capítulo 3 – Nascemos programados para falar

Lingüistas contemporâneos nos alertam para um axioma que diz exatamente o inverso do ingênuo pressuposto tradicional:

TODA PESSOA SABE A LÍNGUA QUE FALA. (p. 51)

3.1 Propensão inata para a linguagem

 

O falante, exposto a modelos de um ou outro nível, um ou outro dialeto, um ou outro conjunto de variantes, exercita-se e cresce linguisticamente, ao natural, sem necessidade alguma de enunciar ou decorar regras que apenas o confundem e tornam esse processo ineficaz, frustrante. (p. 53)

 

3.3 Aprender a língua é evolução natural, como crescer

 

(…) aprender uma língua não é complicado, como faz crer o ensino tradicional. É uma fato natural, ou seja, é da natureza do ser lingüístico que é o homem: um processo por assim dizer automático, até inevitável. (p. 56)

 

3.8 Utilidade de uma visão lingüística da gramática

 

Uma das principais causas de um ensino de língua materna mal orientado, na escola tradicional, é o pressuposto ingênuo que o aluno NÃO sabe a língua. (p.65)

 

Ora, um mínimo de noções de Lingüística moderna sobre a capacidade inata de linguagem, língua e gramática, evidencia o pressuposto inverso:

 

os alunos, como todos os falantes nativos, SABEM sua língua materna.

 

Sobre essa base é que o professor atualizado construirá o edifício de uma prática (não “ensino”) de língua realista, útil, produtiva. (p. 65)

 

3.10 Problemas técnicos das variantes de linguagem no ensino

 

Todas as variantes da língua são valores positivos. Não será negando-as, perseguindo-as, humilhando quem as usa, que se fará um trabalho produtivo no ensino. (p. 69)

 

Capítulo 4- Teoria gramatical: implícita e explícita

 

4.4 Características da teoria gramatical explícita

 

Em linguagem, somos todos autodidatas antes de mais nada. Com pleno êxito, aliás: problemas e fracassos podem vir depois, quando querem nos ensinar de fora para dentro a língua que já é nossa. (p. 81)

 

Mantida pela classe social dominante, a escola impõe no ensino obviamente a variedade idiomática culta, relegando  e desprestigiando as outras variedades, numa natural discriminação sociolingüística.

 

A teorização gramatical escolar se faz dentro de uma longa tradição normativa, essencialmente conservadora, quando não reacionária(p. 81) (Grifos meus.) 

 

Faço uma nova observação ao texto do autor. O que o professor Luft chama de norma culta, eu chamaria de norma cultuada, eis que idealizada, porém inviável. Valho-me de dois significados para o termo “culto”, extraídos do Dicionário Hoauiss (1ª edição, 2001, p. 887). Entre diversos outros significados, o dicionário define culto como que segue o padrão formal, erudito <o português c. e a língua informal>”, e ainda como próprio de pessoas cultas, escolarizadas <língua c. formal>”

 

As próprias definições do dicionário expõem a contradição de considerar um padrão de linguagem como sendo culto. Por seguir o padrão formal, estabelecido de forma arbitrária e em total desconformidade com a realidade da língua falada e usada por milhões de pessoas, a língua dita culta condena, por exemplo, a frase “Vocês foram lá?”, pois o “correto”, de acordo com esta norma “culta”, é “Vós fostes lá?”. Quem, por mais erudito e culto que seja, usa esta última forma? E ainda, ao definir como culta a pessoa escolarizada, o dicionário exclui os milhões de brasileiros que não frequentam as escolas e que, portanto, não poderiam dominar a língua “culta”. Esses brasileiros, que muitas vezes passam a vida sem sentar num banco escolar, por acaso passam a vida, também, sem se comunicar com outras pessoas? Ora, numa análise um tanto quanto simplificada não se pode dizer que a comunicação é a finalidade última da língua? Então, como se pode dizer que essas pessoas, por não dominarem as regras da norma “culta”, que, como vimos no exemplo vocês/vós, não é dominada nem pelo mais erudito gramático, não “sabem falar português”? (Ao fazer a observação sobre a língua como elemento primordial de comunicação, estou passando ao largo, evidentemente, de outras questões históricas, culturais e, principalmente, sociais, as quais são em algum momento abordadas neste texto, e faço isso apenas para facilitar a compreensão da ideia a ser transmitida neste momento específico. Todavia, não posso cometer a imprudência de deixar de assinalar que o entendimento restrito da língua como ferramenta de comunicação é altamente equivocado e muito perigoso.)

 

Por isso entendo que o reconhecimento da existência de uma norma cultuada e não culta, de forma a não eliminar por “erradas” todas as outras, contribuirá muito mais para uma verdadeira compreensão do que é a língua (ou as línguas) falada pelo povo brasileiro.

 

Ninguém conseguiria aprender qualquer língua com base em livros e aulas que a teorizam ou explicam – simplesmente porque nenhuma explicação ou teoria explícita é capaz de expor/desvendar integralmente a gramática de uma língua. (p. 82)

 

4.5 Conclusão

 

Diante de tudo isso, impõe-se a pergunta: Por que e para que ensinar/estudar teoria gramatical no primeiro e segundo grau? Difícil uma resposta.

 

Quem sabe, o único objetivo da toeira gramatical na escola talvez seja simplesmente cumprir programas, manter uma tradição multissecular. Afinal, não é assim que sempre se fez?

 

E o professor, se não tivesse sintaxes e concordâncias, regências e colocações de pronome, morfologias e fonéticas, regras e exceções a ensinar – o que faria o professor na sala de aula?

 

Tivesse a escola objetivos vitais, culturais, sociais ou político-educacionais bem definidos, certamente haveria maior clareza e funcionalidade nos programas e métodos de ensino da língua materna.

 

E não se apelaria tão rotineiramente para a superstição do teorismo gramatical ou do ensino gramaticalista.

 

Não parece minimamente razoável ensinar teoria gramatical de modo costumeiro a indivíduos que nem conseguiriam falar se não dominassem previamente a gramática da língua.

 

Praticar a gramática é o que falta na escola. Ler (ler e ler), debater, escrever (escrever e escrever). tudo isso é gramaticar – o melhor método de ampliar, reforçar e agilizar a gramática, a de todos e a de cada um em particular. (p. 84)

 

Adendo – O saber dos falantes e o saber dos lingüistas

 

É próprio do pensamento tradicional ingênuo supor que a gramática da língua está nos livros, e que os falantes, em maior ou menor grau, estropiam a língua, provocando afirmações de que “todo mundo fala errado”, como se, primeiro, os gramáticos inventassem as regras, para depois os falantes obedecerem a elas e poderem falar.

 

O inverso é que é verdadeiro: a gramática está na mente dos falantes, só ali existe em plenitude; as gramáticas (livros), em maior ou menor grau, mutilam a língua, e são, todas elas, lacunosas, falhas. (p. 85) (Grifos meus.)

 

Capítulo 5 – Sobre a inutilidade e nocividade do ensino gramaticalista da língua materna

 

5.4 A Gramática mal ensinada incute servilismo (Grifo meu)

 

Outro fruto nocivo do ensino da língua materna orientado pelo teorismo gramatical é a postura servil que incute nos estudantes diante de pretensas autoridades, dos que ditam a Gramática e comandam as regras, como se estas não fossem imanentes à língua, anteriores e superiores a qualquer gramático, ou como se os gramáticos fosse os donos da língua. Gramático (verdadeiro) é cada falante, e donos da língua somos todos nós(p. 93) (Grifos meus.)

 

Chegamos assim ao que constitui  o mais grave dano causado por um ensino de língua fundado na teorização gramatical: a relação negativa do falante com a sua própria língua. A convicção que se vai infiltrando de “não saber a língua”, e com isso o bloqueio da criatividade, a inibição da linguagem, sensação de incapacidade e insegurança. Já ouvi o absurdo de dizerem: “Em Portugal, sim, qualquer criança ou lavadeira fala bem o português; no Brasil, até o doutor fala errado”. (E era um professor… de Lógica.) (Grifo meu.)

 

De tanto ouvir definições e conceitos confusos e incoerentes, classificações e subclassificações, regras e exceções;de tanto enfrentar análises herméticas;de tanto ser obrigado a decorar coisas que não entende ou que são estranhas ao seu uso e até ao uso das pessoas mais cultas – o aluno vai sendo lingüisticamente arruinado. Conclui que sua língua é um universo esotérico, só acessível a iniciados. (Grifo meu.)

 

Daí os conceitos bizarros tão difundidos entre nós, e que já comentei acima: falamos errado, a língua está em decadência, etc. Por trás de tudo, a perigosa idéia: somos um povo inferior, cidadãos incapazes… até na língua do país. (p. 94) (Grifo meu.)

 

Entrando na escola, a criança fala com desembaraço e naturalidade, e em breve poderia escrever da mesma maneira, se bem orientada. mas, aí, o ensino vai lhe insinuando que não sabe a língua, que fala e escreve pior. (p.95)

 

(…) milhares de redações levam nota zero no concurso vestibular. Culpa dos alunos? Culpa do péssimo ensino da língua materna. Oito anos de Português no 1º Grau, três anos no 2º Grau, além do “cursinho” – e centenas, milhares de jovens conseguem tirar zero em redação na sua própria língua. Existe fracasso maior? (p. 95)

 

Este subtítulo, “A Gramática mal ensinada incute servilismo” é, para mim, talvez o mais emblemático do livro, pois de certa maneira sintetiza tudo o que eu quero expressar fazendo essas transcrições e alguns breves comentários. 

 

Como eu disse anteriormente, o professor Luft viria a concordar comigo (quanta pretensão! – obviamente quem concorda com ele sou eu…) na ideia de que a língua é um poderoso instrumento de dominação. As pessoas convencidas, de forma nefasta, de que não sabem o Português acabam se autoexcluindo da participação social e política mais efetiva. Quem não tem notícia de alguém que se recusa a conversar com um desembargador ou mesmo com um advogado por não se sentir à altura da linguagem deles? Ou quem não conhece alguém que diz que não lê autores clássicos porque não entende a sua linguagem? Esse é um tipo de segregação patrocinado pela forma como a língua materna, que TODOS os brasileiros dominam desde a primeira infância, é ensinada, como muito bem observa o professor Luft.

 

O preconceito linguístico, e disso trataremos especificamente em outro momento, é dos mais cruéis e eficazes que se pode ter notícia, pois é (nem sempre) sutil e aparece sub-repticiamente e até inconscientemente das formas mais diversas, como na ideia ingênua dos professores de Português, que despejando teorias e mais teorias acreditam que estão contribuindo para a educação dos alunos, e, principalmente, dos pais, que vão às escolas cobrar dos professores um ensino tradicional, sempre que estes ousam investir num ensino voltado à prática do idioma, pois, segundo ideias pré-concebidas, os filhos não estão “aprendendo” língua portuguesa. 


Na frase citada pelo autor: “Em Portugal, sim, qualquer criança ou lavadeira fala bem o português; no Brasil, até o doutor fala errado”, fica evidenciado o caráter preconceituoso de quem fez a afirmação. Ao dizer que em Portugal qualquer criança ou lavadeira fala bem, ele está dizendo de forma subjetiva que mesmo uma lavadeira, pertencente a uma classe social inferior, segundo o que fica implícito, sabe a língua. E quando diz que no Brasil até o doutor fala errado, poderia dizer, de outra forma, que mesmo o doutor, pertencente a uma elite, desconhece a sua própria língua. Está aí um caso claro de preconceito pela língua.     

Tanto quanto os preconceitos de natureza racial (étnica), sexual, econômica e todos os outros, o preconceito linguístico deve ser combatido, mas isso só será possível na medida em que o aceitarmos e procurarmos entender o seu funcionamento.

 

Capítulo 6 – Língua e liberdade

 

Uma língua viva está em constante evolução: dialetos, gírias, neologismos, estrangeirismos, tudo faz parte dela, dessa ebulição que a mantém animada. (p. 98)

 

Nada se presta melhor para instrumento de repressão e opressão do que a língua materna, cerne do nosso eu pensante, através da qual existimos enquanto seres racionais. (p. 99) (Grifos meus.)

 

Importante é ter bem claro que o aluno não precisa “aprender” a língua; precisa, sim, reforçar sua gramática implícita, internalizada na primeira e segunda infância, ampliá-la com os elementos do modelo culto padrão. (p. 99)

 

Não tem importância trazer de cor regras explícitas: não creio que todos os nossos bons escritores fossem aprovados num teste de Português à maneira tradicional;e no entanto, são eles os senhores da língua. (pp. 99 e 100)

 

Apêndice – Por um ensino natural da Gramática

 

Uma perseguição neurótica de erros só gera insegurança e desamor ao trato com a língua. Acaba convencendo o aluno, sub-repticiamente, de que não sabe sua língua e que o conhecimento dela (e da Gramática) é algo esotérico, reservado a professores, especialistas, gramáticos. (p. 107)

*Publicado originalmente no blog Na Cidade de Cabeça pra Baixo, em 8/11/2012.

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